O velho Anésio morreu em cima do telhado de sua casa. Subiu para tirar uma goteira, mesmo com seus 88 anos, esqueceu de tudo, trepou na escada, e camihava sobre o telhado. De repente, sentiu-se mal e tombou sobre a calha e ficou lá caído e morto. Infartou. Não quis morrer no plano terrestre, mas, ali no alto, igualando às copas das mangueiras, já numa escalada de subida para o universo inteiro.
Anésio arigó nordestino da década de 40, seringueiro velho e remanescente, contador de histórias, ninguém como ele para dar palestras em escolas, contar dos seringais da região, dos nomes dos seringalistas, das subidas e descidas pelo Rio Jamari e ir além sobre a política do antigo Território Federal. Sabia tintim por tintim de datas, dos prédios, das vidas dos moradores antigos, uma memória rara e preciosa.
Era um mito e um símbolo de outros tempos. Tive no velório dele, feito na casinha de madeira, de seringueiro velho, na cozinha apertada, muita gente pelo lado de fora, no quintal de sombras e tudo ali aconchegante como sempre gostou de viver. Muito bem, Anésio, missão cumprida, bem que você me falou, ande rápido com suas gravações comigo, porque o meu tempo está chegando ao fim. E chegou. Leve com você o abraço da cidade de Ariquemes, porque você foi igual ou maior do que nós todos.
Um comentário:
Ariquemes perde um pouco de sua história que continuava viva com seu Anésio. grande perda
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