Sou um sertenejo goiano e tocantinense, sou cinco estados como ninguém é. Um retirante e sobrevivente ainda agarrado aos ares do lado de lá. Bem perto ficam Bahia, Piauí e Maranhão. Os ventos varridos dos gerais do Jalapão também me sopraram o corpo inteiro. Bem ali, em outros tempos, poderia se dizer o fim do mundo ou quem sabe o começo. Onde o céu era bem mais azul. E a visão morria na Serra Geral, coberta do escuro do nevoeiro. O silêncio demorado, quebrado pelo grito dos pares de araras azuis e vermelhas, sumiam no infinito dos ollhares. Os ermos gerais, enfirleirados buritizais, copudos, guarda-chuvas fincados nos brejos pantanosos. O gado curraleiro arredio. O medo, a crença, o mito, tudo por ali era história de outros tempos. As ruas tortas, de casas agarradas, solidárias, idênticas convergiam para a praça da matriz, o pilão socando o milho, a peneira abanando o arroz da casca. A praça retangular, uma pedra imensa, uma caixa d'água, jegue relinchando a solta, o coreto, a igreja onde se concentravam todos os pecados da cidade, quase todos perdoados. Sou dali, deste canto de Brasil varonil. E depois filho de candango, calango, da Vila Planalto, de onde se via o pai subir andaimes do maior prédio de Brasilia, aquela haste que sobe entre o Senado e a Câmara dos Deputados. O barro vermelho, o cerradao bruto, o capim provisório penteando a terra, o caju, o araçá. Sou isto tudo que é verdade, o mais mestiço do mestiço, vindo de cruzamentos e mais cruzamentos, quase uma azarão de ter vivivo, dou-LHE graças e bem-aventuranças por hoje estar aqui em Rondônia. Sou um norte, nordeste, quem sabe ainda um centro-oeste, ou melhor dizendo um noroestino comedor de mocó. Como diz Chico Padre, um baiano cabra de peste, de pé no chão, unha arrebitada pra cima de tanto "tropicão". É istoque sou. E nada mais.
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